A
obra Olhinhos de Gato faz parte do acervo de livros escritos por Cecília
Meireles. Nela é retratada a infância da própria autora, e, embora narrada em terceira
pessoa, a história expõe uma parte da vida de Cecília. A narrativa é
constituída pela solidão, melancolia e tristeza que a menina vivenciou com a
morte precoce dos pais, mas também registra seus momentos felizes. Após o
falecimento dos pais, a personagem que dá título à obra passa a viver com a avó
(Boquinha Doce), a ama de leite (Dentinho de Arroz) e Maria Maruca (empregada
da família). Além dessas personagens há outras que são inseridas na narrativa no
decorrer da história.
A
princípio a obra inicia-se com a menina doente, com febre, cercada de cuidados
pelas mulheres da casa. Esses cuidados são constituídos pelo medo da menina ter
o mesmo destino dos pais: a prematura morte. Com a perda dos pais, ainda na
infância, Olhinhos de Gato ficou presa às lembranças e à solidão que a cercava.
Tendo pouco contato com outras crianças, a menina brincava apenas com Maria
Maruca no quintal de casa, em que havia árvores e plantas.
A
infância de Olhinhos de Gato foi cheia de lembranças, mescladas entre tristezas
e alegrias. Em meio às lembranças, a menina descreve perfeitamente os últimos
momentos de vida da sua mãe, porém, ela não reconhece que a mulher de cabelos
escuros que estava deitada na cama era, de fato, sua mãe e quando pergunta à
Boquinha Doce, ela desconversa. Com intuito de preservar a menina do
sofrimento, a avó não releva quem é a mulher, protegendo-a da angústia e de
saber a verdade. Quando Olhinhos de Gato adoecia, os cuidados eram redobrados
por Boquinha Doce, Dentinho de Arroz e Maria Maruca, pois o medo da morte era maior
que qualquer outra coisa. Assim, a menina era privada de brincar, de sair da
cama, tudo porque era a última da família que tinha sobrevivido. Tanto é que,
ao longo da narrativa, referem-se à menina com pena, como nas passagens:
“graças a Deus que escapou!” (p.19), “só a meninazinha ficou!” (p.21), falas de
vizinhos de sua avó e conhecidos da família que acompanharam a morte dos pais
da menina.
Além
de tanta tristeza, a narrativa também possui momentos de felicidade, como quando
a garota tem contato com os costumes populares da época e a cultura popular
brasileira. Nessas passagens, retratam-se no livro as cantigas, as crenças, os
ditos populares, expondo um pouco do nosso folclore. Também descrevem-se os
ritos de datas comemorativas, como Carnaval, Semana Santa e o Natal. Há também
as descrições dos comerciantes e vendedores ambulantes de angu, pamonha, bala
doce e sorvete. Esses vendedores são citados um a um, como também as comidas
regionais e as festividades, ou, seja, enfatizando-se, assim, tudo que compunha
aquela infância.
Olhinhos de gato é
uma obra rica em detalhes e descrições do ambiente e do espaço, das lembranças,
do contexto histórico em que a personagem estava inserida e onde aconteceu a
história. É um livro que apresenta uma linguagem um pouco complexa, com uso de
muitas metáforas. A depender da idade da criança que o esteja lendo pode ser
necessária a colaboração de um adulto na explicação de algumas passagens, para
que não haja um desinteresse ou uma má compreensão da leitura.
O
livro foi escrito para o público infantil mais é direcionado também a leitores
que desejem conhecer um pouco mais da vida de Cecília Meireles, como foi o processo
de perda dos pais, sua adaptação e vivência com a avó.
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