Criança,
meu amor foi publicada pela primeira vez no ano de 1924, esta, foi a obra
de estreia, para a vasta produção de literatura infantil da autora que ainda
estava por vir. A obra é composta por breves histórias, mandamentos, quadrinhas
e cantigas, que registram fatos do cotidiano da criança, envolvendo
principalmente o ambiente familiar e escolar. Os textos são independentes e
tratam-se de uma prosa poética riquíssima de sentimentalismos a começar pelo
título do livro.
Por se tratar da primeira obra infantil
ceciliana, conservaram-se fortemente traços pedagógicos e morais, procurando
inspirar valores como o amor à escola, à família, à professora e virtudes de
caráter como a generosidade, o respeito aos mais velhos, a amizade e a
educação. Algumas dessas caraterísticas podem ser vista, por exemplo, no texto
“Os Jardins”, através de um fato vivenciado pelas personagens Célia, Rute,
Marília e Noêmia, Cecília Meireles explora a generosidade e o desprendimento presentes
na personagem Noêmia, que não tinha praticamente nada em seu jardim, pois dera
tudo aos que passavam e pediam-lhe. Em “Mandamento I - Devo amar a escola como
se fosse meu lar” é perceptível que a escola é tida como um lugar sagrado, que
deve ser cuidado e respeitado como um segundo lar. Já na lírica “Cantilena”,
percebe-se a marcação de sons e ritmos, além de sentimentalismo e doçura na
forma como foi escrito o assunto tratado (maternidade, proteção...).
Em síntese, Criança, meu amor retrata momentos diversos do cotidiano da
criança, com uma riqueza de detalhes que estimulam a fantasia, a imaginação e
ensinam ao mesmo tempo em que divertem.
Os textos contido na prosa poética podem ser trabalhados em sala de aula
explorando a relação de vivência da criança dentro e fora da escola, através
dos ensinamentos de virtudes, explorando-se também, aspectos literários do
livro.
LEIA TRECHOS DA OBRA...
Jardins
– No meu jardim há lírios, rosas,
margaridas e violetas, dizia Célia.
– Nome meu, dizia Rute, há principalmente
cravos.
– Que bom, na primavera, não é? Perguntou
Marília. Podem fazer-se grandes ramos para as jarras de mamãe.
– E o papai, então, que gosta tanto de
flores!... disse Rute.
E como, enquanto as três meninas
conversavam, Noêmia pensasse docemente perto delas, sem dizer nada,
perguntaram-lhe o que havia no seu jardim.
Ela disse que o seu jardim tivera muitos
cravos, lírios, rosas e margaridas, também. Era um jardim tão bonito que fazia
parar as criaturas que passavam por ele. Algumas pediam-lhe flores. E ela dava.
Outras pediam-lhes mudas. E ela dava, dava sempre... De maneira que no seu
jardim não havia agora quase nada... A bem dizer, nada, mesmo...
Ela, porém, não estava triste – porque as
suas flores deviam andar noutros jardins...
E as três meninas abraçaram Noêmia com
ternura...
Mandamento
I
DEVO AMAR A ESCOLA, COMO SE FOSSE MEU LAR
Entrei na escola pequeno e ignorante: mas
hei de estudar com amor, para vir a ser um homem instruído e um homem de bem.
A escola abrigou-me tão cuidadosamente
como se fosse a casa dos meus pais.
A escola deu-me horas de alegria, sempre
que me esforcei trabalhando.
A escola conhece o meu coração, conhece os
meus sonhos, conhece os meus desejos.
E só quero ter desejos e sonhos bons,
nesta casa que respeito como um lugar sagrado, em que a gente fica em
meditação, para se tornar melhor.
Cantilena
Bonequinha, bonequinha,
Dorme, dorme sossegada,
Dorme, dorme, filha minha!
Bonequinha muito amada,
Oxalá que embalem as crianças
Como tu és embalada!...
De palavras mansas, mansas,
Faço a minha cantilena,
Com pedaços de lembranças
Dos meus tempos de pequena...
Era assim, a mesma toada
Que eu dormia, bem serena...
Bonequinha muito amada,
Ninguém no mundo adivinha
Como tu és embalada!
Dorme, dorme, filha minha,
Dorme, dorme sossegada,
Bonequinha, bonequinha,
Bonequinha muito amada!...
MEIRELES, Cecília. Criança, meu amor. 3.
Ed., São Paulo: Global 2013.
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